O planejamento
Fruto de muitas conversas que precederam a apresentação da proposta em Edital do IPHAN, a Grande Oca foi planejada nos mínimos detalhes: a escolha do local da construção; as fases da Lua para a retirada da madeira, do cipó e do sapê; a pesquisa dos locais na mata com os melhores troncos de árvores para o projeto; os contatos com o mateiro para o corte do sapê; a área com cipó mais fino e flexível; a capina da área escolhida para a Grande Oca; seu nivelamento; a preparação das madeiras; a secagem do sapê...
Tudo tal qual fosse qualquer outra obra de engenharia, mas no tempo e ritmo da Cultura Indígena Guarani.
Cobertura com sapê
A cobertura de sapê é colocada de baixo para cima. Talvez este seja o momento mais bonito de todo o processo desta construção.
A sensação visual é a de ver o esqueleto da Oca sendo vestido por um longo vestido de babados.
A partir da primeira linha de amarrados de sapê que tocam o chão, as outras linhas de amarrados que se sucedem, descendo por cima da anterior, cobrindo até quase a sua metade, formando um lido babado de sapê.
O momento mais delicado e complexo fica por conta do fechamento da colmeeira, minuciosamente documentado em vídeo, que é feito de forma intercalada, como o pentear de uma trança.
A estrutura
Colocado os dois mastros verticais, o travessão central é apoiado em ambos, para receber, um a um, os troncos laterais inclinados. Esses troncos laterais é que vão receber as “varas” para a fixação do sapê.
Antes da fixação do sapê, as “varas” são amarradas aos troncos inclinados, com cipó.
Matéria Prima - A extração de madeira, cipó e sapê
A extenuante tarefa de derrubada das árvores de troncos finos, bem como retirada do cipó, exigiu muito esforço, mata a dentro, na íngreme encosta de um morro próximo à Aldeia. De um ponto próximo a este foi retirado o cipó.
A madeira foi trazida até o pé do morro, à beira da estrada, em um mutirão assemelhado a uma performance coreográfica, que fazia com que os troncos fossem encontrando os melhores caminhos para escorrer pela encosta, com a ajuda da gravidade. E de lá transportado por caminhão até a Aldeia.
Já o sapê exigiu uma trilha de mais de três horas, até o ponto de encontro com o mateiro, que já esperava o grupo, para mais uma meia hora de caminhada.
Cortado verde, o sapê precisa “descansar” por um bom tempo, para a sua devida secagem, até ter condições de ser trabalhado com a finalidade de se transformar em material para a cobertura da Oca.
Seu transporte foi um pouco mais complicado por causa da longa distância até a Aldeia e, além do seu peso, pelo grande volume do material colhido.
Esta logística de transporte exigiu que uma parte do caminho fosse vencida por barco – até a Praia de Paraty Mirim – e outra por caminhão, até a Aldeia.
A capina
A área escolhida foi um ponto bem na entrada da Aldeia, coberta por mato e vegetação rasteira com pequenos arbustos.
Esta “limpeza” de terreno ficou por conta de um grupo de jovens indígenas da Aldeia.
Retrato do povo
Os Guaranis do sul do Estado do Rio de Janeiro, não se pintam mais com carvão, urucum ou jenipapo, como os seus ancestrais.
Freqüentam a cidade, vão para a escola e se vestem como os brancos.
No seu conjunto, os índios Guaranis do sul do Estado já não guardam mais uma uniformidade absoluta de traços fisionômicos.
As crianças brincam com bola de gude, jogam futebol, andam de bicicleta, e chamam de “mole e duro” aquela brincadeira de pique entre dois times, conhecida no Rio de Janeiro e em Niterói por “pique cola”. Se uma criança é “pega” por outra de outro time, tem que ficar imóvel (“dura”) até que outra criança do seu próprio time a liberte (“mole”).
Além disso, como qualquer criança, inventam brinquedos e brincadeiras, se valendo de descarte de resíduos sólidos, encontrados no lixo da própria Aldeia.
Os jovens conversam em rodas, ouvem música e jogam joguinhos nos celulares.
Os adultos conversam reunidos em frente as suas próprias habitações ou sentados sobre as pedras, na entrada da aldeia.
Esta é uma página dedicada à experiência de seis meses de Residência Artística do artista visual
Davy Alexandrisky no Ponto de Cultura Resgate da Cerâmica Guarani e Capacitação para o seu Registro Audiovisual, da Associação Artístico Cultural Nhandeva (http://www.nhandeva.org/indexpor.htm).
Com uma Bolsa de Interações Estéticas (http://www.funarte.gov.br/interacoesesteticas/) oferecida pela parceria entre a FUNARTE e a Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural do MINC – Ministério da Cultura, o Projeto Índio Não Quer Mais Apito teve seu epicentro na Aldeia Itaxim, dos Índios Guaranis, em Paraty – RJ.
Foram seis meses de convivência e trocas de saberes com o trabalho desenvolvido pela Associação Nhandeva, por iniciativa perseverante e incansável de um casal de ceramistas que vive há mais de trinta e cinco anos em Paraty: Roque Gonzalez e Patricia Solari Menoret.
Ele paraguaio, que desde sempre esteve ligado à Cultura Guarany, ela argentina, que escolheram Paraty Mirim, em um sítio vizinho à Alteia Itaxim, para morar e formar uma família. Ali construíram sua casa, tiveram e criaram os seus três filhos. E de lá nunca fizeram planos de sair.
Esta página oferece, em imagens, um pouco da história de um trabalho fruto de uma densa convivência entre o artista, os gestores do Ponto de Cultura e os indígenas Guaranis.
Veja as galerias de imagens:
PLANEJAMENTO
COBERTURA COM SAPÊ
MONTAGEM ESTRUTURA
MATÉRIA PRIMA
CAPINA
Além da preservação do idioma Guarani, língua falada e escrita, para preservar a identidade cultural, os Guaranis da Aldeia Itaxim se reúnem todas as noites na Casa de Reza, para fumarem seus petanguas (petygwá, em Guarani – cachimbo típico), e manifestar em depoimentos, perante aos indígenas da própria Aldeia, sua condição de indígena.
Também cantam e dançam.
O Coral da Aldeia Itaxim se apresenta regularmente em eventos dos mais diversos, e está gravando um CD e um DVD, com 10 músicas.
Construção da oca
Do planejamento ao último amarrado de sapê para o acabamento da cobertura da Grande oca, está tudo documentado através de centenas de fotos e dezenas de horas de gravação em vídeo.
Como a proposta da construção da Grande Oca se funda na intenção da preservação da identidade cultural do Povo Guarani, não bastava a sua simples construção.
Era importante mostrar para os que até hoje só viveram em habitações precárias, feitas com pedaços de madeira e telhas de amianto, as técnicas ancestrais para construir uma habitação de acordo com a Cultura Guarani, que oferece inúmeras vantagens em relação às suas atuais moradias. Mostrar e garantir que isto possa ser repassado às futuras gerações.
O material produzido servirá, inclusive, para a exposição permanente que será abrigada por esta Grande Oca, para geração de renda com um projeto de visitação turística guiada.
A Associação Nhandeva e uma entidade sem fins lucrativos que foi fundada por um grupo de artistas, Índios e não índios, em novembro de 1997, para apoiar, revitalizar e resgatar partes das tradições perdidas dos atuais Índios Guaranis da região de Paraty estado do Rio de Janeiro, Brasil. Sua missão se centraliza na musica ancestral e nas manifestações artísticas através do artesanato buscando re-implantar todas as formas de arte que no passado eram usadas por ese povo.
Por motivo do aculturamento este povo perdeu grande parte de seu acervo cultural, em no que se refere às artes tradicionais, como a cerâmica e o tear, por exemplo. Buscando em antigos registros e museus A Associação busca despertar a antiga memória Guarani em conjunto com as comunidades.
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